Início Esportes Gerson e o problema da transição defensiva na Seleção

Gerson e o problema da transição defensiva na Seleção

0
Desempenho da nova dupla de meio-campistas testadas por Tite liga alerta: anular contra-ataques será fundamental contra os europeus na Copa Com a classificação para a Copa do Mundo praticamente garantida com 27 pontos – oito na frente do segundo colocado, Tite usa as Eliminatórias para aprimorar o modelo de jogo da Seleção e corrigir eventuais falhas. Na vitória de virada sobre a Venezuela (3 a 1), um alerta foi ligado: a transição defensiva.
O Brasil sofreu com contra-ataques e perdas de bola. O time todo foi desatento e lento nos cinco segundos após perder a posse de bola para o adversário, momento chamado de transição defensiva: a etapa no qual todo o time precisa “mudar o chip” e passar de ataque para defesa.
+ Análise: sangue novo eleva nível do Brasil após escorregões e baixa competitividade no 1º tempo
+ Tite admite problemas em vitória sobre a Venezuela, mas vê segundo tempo “de alto nível”
Tite orienta jogadores da Seleção na vitória por 3 a 1 sobre a Venezuela
Lucas Figueiredo / CBF
Um time de futebol pode lidar com esse momento de várias formas. Não existe certo ou errado. O que Tite quer é o que ele chama de “perde-pressiona”: nos cinco segundos após a perca da posse, todo mundo tem que fazer algo para evitar que o adversário avance. O que fazer? Depende da posição de cada um. Defensores voltam para compor a linha de quatro, enquanto atacantes e meio-campistas precisam encurtar, diminuir o espaço e retomar a posse.
Veja o exemplo abaixo: quem está de vermelho deve sair do lugar e incomodar o adversário enquanto o defensor volta para a linha de quatro.
Brasil perde a bola: os de vermelho saem do lugar para pressionar, o defensor de amarelo retorna para a defesa
Reprodução
O Brasil lidou mal com esse momento do jogo até as entradas de Raphinha e Antony. Boa parte do sufoco passou por uma atuação coletivamente abaixo do time e individualmente ruim de Fabinho e principalmente Gerson, que perdeu duas bolas perigosas para Soteldo logo no início do jogo e não impedia o adversário de sair.
Veja o exemplo abaixo: a Venezuela tem oito jogadores em seu campo e recupera a bola. A primeira linha de marcação do Brasil, dos atacantes, foi superada na base da velocidade. Então a jogada passa ao meio-campo, que precisa sair do lugar (o que vamos chamar de “saltar”) e encurtar até roubar a bola.
Venezuela recupera a bola do Brasil em seu próprio campo
Reproduçãi
Fabinho, Gerson, Paquetá e Éverton Ribeiro pecaram nesses momentos. Mesmo quando estavam próximos, permitiam ao adversário conduzir e acionar o ataque. Veja Gérson: ele passa quatro segundos bem próximo da bola, mas não rouba, nem impede o avanço. Pelo contrário: permite um giro, que gera um passe para Soteldo.
Gérson permite a condução tranquila de bola da Venezuela
Reprodução
Se você está se perguntando o porquê desse detalhe ser tão importante, pense…no que importa: a Copa do Mundo. O Brasil irá enfrentar adversários que farão o mesmo que a Venezuela: se fechar e colocar a vida nesses momentos após roubar a bola. Permitir tantas transições ao rival pode ter consequências terríveis.
Outro exemplo: a Seleção perde a bola, a Venezuela sai rápido e a defesa, a linha de quatro, se posta atrás. Só resta o Gérson para pressionar a bola e evitar o passe.
Gérson novamente salta para pressionar, mas não mata a jogada
Reprodução
Se o jogador que lidera a pressão não mata a jogada, o adversário tem a chance de se organizar e ainda ocupar espaços que naturalmente estão vazios. É a chance, única, de um time bem pior tecnicamente que o Brasil de achar espaços numa defesa com alguns dos melhores zagueiros do mundo. Veja como a falha de pressão de Gérson (e do time) permite que a Venezuela se organize com várias vantagens na defesa do Brasil.
Venezuela ataca com a defesa do Brasil toda exposta
Reprodução
O erro é individual e coletivo. As coisas se interligam, e não dá para “culpar” Gerson dentro de um esporte coletivo. Mas num momento de testes a um ano da Copa do Mundo, é possível estabelecer quem está correspondendo as chances dadas. E o problema visto no desempenho individual do meia não é de hoje.
Gérson pode adicionar em chegada e passe, mas desde os tempos de Flamengo que peca demais nesses momentos de perda de posse. No Olympique, entrou em conflito com a torcida e foi acusado de “não correr” por Guendozi. Por isso Tite, com razão e não reconhecido por isso, preferiu o injustamente criticado Fred na Copa América.
Fred pode não ter a chegada do Gérson, mas contra uma Venezuela ou o cenário que o Brasil vai enfrentar contra europeus na Copa, consegue melhorar a retomada de bola e faz a equipe passar mais tempo no ataque e menos tempo em transição. É a mesma característica de Bruno Guimarães e Douglas Luiz.
+ Mais ofensivo, maduro e confiante: Gerson analisa nova vida no Olympique de Marselha
Tite, inclusive, citou que considera Gerson um articulador, e não um volante.
Não considero Gerson um volante. Considero Gerson um articulador, de criação. Ele tem sua origem como 10, no seu clube está mais adiantado. Quem vê o posicionamento dele o vê mais avançado, entre linhas. Se olhar o Gerson, ele atuou muito mais como articulador. Por isso a escolha por ele, não do Fred.
Pode soar estranho que um jogador com características mais “defensivas” melhore o ataque da Seleção, mas essa é a dinâmica do jogo: momentos interligados. Ter um jogador que retoma mais a bola pode fazer o time ficar mais ofensivo.
O pouco domínio do momento sem a bola já vitimou uma das grandes promessas do futebol brasileiro: Arthur, hoje na Juventus. Assim como Gerson, ele também era muito pedido e visto como salvação do time, mas não mostrou a intensidade necessária em alto nível. Um dos muitos casos em que o “hype” faz mal.
Hoje em baixa, Gerson e o meio-campo da Seleção Brasileira podem recuperar o bom desempenho. Restam poucos jogos, e os testes continuam para uma vaga que parece em aberto e vira mais um problema para Tite após uma atuação bem abaixo.
Me siga no Twitter
Me siga no Facebook
Me siga no Instagram

Fonte: Globo Esporte

Comentários do Facebook

Sair da versão mobile