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“Jogar sem a bola”, a lição de Jorge Jesus que o Flamengo continua a aplicar em campo

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Ideia de jogar de forma automática, sem pensar, vem sendo aplicada pelos reservas durante a data FIFA O jogador brasileiro, quando tem a posse de bola, não se preocupa. Mas é preciso saber jogar sem a bola. Os jogadores brasileiros não conheciam tão bem o jogo sem bola. Que a tática é tão importante quanto a parte técnica. Foi preciso muito trabalho para fazê-los entender.
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Jorge Jesus deu uma palestra em um evento de gestão esportiva em Portugal no qual afirmou que sua principal contribuição ao futebol brasileiro foi mudar o “jogo sem a bola” da equipe do Flamengo sobre seu comando.
A lição continua a ser aplicada, como a vitória por 3 a 1 no Juventude, no Maracanã, deixou claro.
O sorridente Jorge Jesus, em entrevista coletiva na véspera de seu retorno à fase de grupos da Champions: técnico está confiante com o Benfica
Miguel A. Lopes/EFE
O técnico Renato Gaúcho reconheceu a primeira etapa como “uma atuação de gala”, dada a superioridade frente ao adversário. É um erro achar que o Flamengo joga melhor porque tem jogadores melhores. Quantas vezes um time que no papel era melhor não conseguiu vencer o rival? A verdadeira superioridade está no que o Flamengo faz sem a bola.
O “sem a bola” que Jesus cita não se refere à defesa. São movimentos que os jogadores que não estão com a bola fazem para que o Flamengo chegue ao gol. Só que não basta apenas fazer o movimento. É preciso se movimentar no tempo e no espaço certo para que o time avance em campo. O diferencial do Flamengo desde a era JJ é a união dessas coisas.
Tome como exemplo esse lance: Thiago Maia está com a bola nos pés. Dois marcadores do Juventude avançam nele, e Kenedy aparece por perto.
Thiago Maia tem a bola: o que acontece ao redor dele?
Reprodução
Thiago toca para Rodrigo Caio, que devolve em Matheuzinho. Enquanto todo mundo olha a bola, o que acontece ao redor dela é muito mais importante. Em apenas dois segundos, Maia avançou uns bons metros em campo, assim como Michael, que nem no outro lance estava. Eles jogaram sem a bola.
Movimento de Thiago Maia ajuda a criar espaço na defesa do Juventude
Reprodução
Soa estranho que futebol possa ser jogado sem seu elemento principal, mas o jogar sem a bola que Jorge Jesus cita nada mais é do que movimentos em outro elemento principal do jogo: o espaço de campo. Se apenas um jogador tem a bola, como os outros dez em campo podem ajudá-lo? Fazendo o que Thiago Maia faz acima: se movimentando.
A questão agora é: como se movimentar? A resposta está na ideia de jogo do treinador. Renato Gaúcho não é Jorge Jesus e tem ideias diferentes do que fazer. De modo simples, sua principal ideia é a troca constantes de apoio e profundidade. Enquanto uns dão apoio (se aproximam da bola), outros dão profundidade (vão para frente).
Olha o que acontece na sequência: Thiago Maia avança, enquanto Kenedy recua e se aproxima de Matheuzinho. Tudo sem a bola.
Kenedy e Thiago Maia trocam de posição
Reprodução
O jogo de futebol tem 90 minutos, sendo que aproximadamente 65 deles são de bola rolando. Um jogador tem a bola nos pés, em média, por 2 minutos. Estamos falando de 63 minutos – quase uma hora – que a principal coisa que um jogador faz é o que Jorge Jesus chama a atenção: jogar sem a bola.
Parece simples assim. Mas futebol é um esporte humano. Jogar sem a bola envolve uma atenção contínua. Uma dedicação muito grande durante os 63 minutos aí em cima. Para piorar, é provado que a mente humana consegue manter atenção plena, quando você só foca em algo e esquece a hora passar, durante vinte minutos.
Ou seja: é muito difícil manter esse jogo constante de movimentos de apoio e profundidade durante 60 minutos. Por isso Renato dosa a intensidade, mas nos momentos de atenção plena, joga perfeitamente sem a bola. Quando Matheuzinho devolve para Andreas, os mesmos que se esforçaram para gerar linhas de passe a ele se movimentam para perto de Andreas.
Andreas recebe a bola e novos movimentos sem a bola acontecem
Reprodução
Há um componente mental aqui: a confiança. O time se movimentam mesmo não sabendo o que vai acontecer. Um exemplo é Pedro: mesmo longe da jogada o tempo todo, ele identifica que precisa jogar sem a bola e aqui gera profundidade e coloca o corpo para frente para receber a bola de Andreas.
Andreas recebe a bola e novos movimentos sem a bola acontecem
Reprodução
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Jorge Jesus continua vivo na memória da torcida do Flamengo, assim como suas lições. O que continua decidindo o sucesso do Flamengo não é a qualidade de seus jogadores. É o que eles fazem sem a bola.
Sua declaração é valiosa, mas deve ser bem interpretada. Jorge Jesus tem um grande ego e com certeza mudou o jogo sem a bola do elenco que treinou no Flamengo, mas ele pro si só, sozinho, não mudou jogadores que não treinou. Grandes equipes do futebol brasileiro jogavam tão bem com a bola do que sem a bola. Times ofensivos e também defensivos.
No caso do Flamengo, é uma lição que continua vivíssima na torcida e, como o Maracanã mostrou, também em campo.
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Fonte: Globo Esporte

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