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Para o Palmeiras, vitória no Centenário é um caminho feliz de volta para casa

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Nesse 27 de novembro, o Palmeiras se sagrou tri da “Sudamérica” na mesma masmorra celeste de outros tempos. Texto do jornalista Lucas Berti.
Estive no Estádio Centenario em 2016, ainda longe desses feitos futebolísticos sul-americanos que neste tardar de novembro transformaram Deyverson em alguém da linhagem de Tupac Amaru e a banda oriental em um puxadinho da Rua Caraíbas. Em meu primeiro livro, ‘Verde América’ — agora felizmente desatualizado, já que traz histórias de um então apenas bicampeão Palmeiras — revisitei a memória dessas tardes arrastadas pelo paisito e cheguei ao tour solitário que me levou a El Estadio de 1930, onde, fiz questão de lembrar, o Palmeiras amargou duas finais de Copa Libertadores, edições em que terminaria com a maledeta — e hoje pouco celebrada — medalha de prata. Foi como um caminho esquisito de volta às origens: em 1961, foi ali que o Peñarol de Alberto Spencer nos castigaria no jogo de ida, chaga retumbante que nunca demos conta de reverter num caliente Pacaembu, que só viu a Primeira Academia empatar em um insuficiente 1 a 1 com os aurinegros.
Em 1968, com a segunda safra campeoníssima criada nos arrabaldes de Perdizes, veio dor maior: a patada derradeira chegou no antigo e já extinto “Jogo 3”, já que o embate com os Estudiantes de La Plata teria uma vitória pra cada time antes de um sanguíneo 2 a 0 que a esquadra imparável de Carlos Bilardo nos imporia na capital austral. E que coisa esta cancha: nesse 27 de novembro, o Palmeiras se sagrou tri da Sudamérica na mesma masmorra celeste de outros tempos. Não mais: agora, o concreto, em vez do amargor dos vices, vai dar seu jeito de ecoar os gritos secos em plena ventania que pediam “faz, faz, faz…” quando, em vez de Spencer (o equatoriano que é o maior artilheiro da história da Copa), quem correu mambembe até as redes da Glória Eterna foi o improvável e contestado Deyverson, o camisa nove Macunaíma, o menino alegre e febril que, para o deleite de gentes como as nossas, ainda deu jeito de simular uma entrada quando levemente tocado por Nestor Pitana, árbitro do jogo. Até esse garrancho cênico, que expulsaria um aluno de Wolf Maya por justa causa, já nos corre à mente antes das calamidades passadas. O caminho de regresso àquele templo se suavizava.
Por capricho do sempre louco destino, uma foto que tirei em 2016, bem antes deste capítulos escritos pelas linhas tortas (pero tão comuns a nós palestrinos), mostrava pichado na entrada do Centenario um número “21”. Logo o ano em que, bom, Estudiantes, Peñarol, anos 60, Spencer, laputaquelosparió!, fomos campeões no Uruguai. Fomos finalmente campeões no Uruguai. O primeiro país de fora das linhas brasileiras a consagrar um Palmeiras campeão da competição. Talvez um verde não tão lustrado quanto ao que era tocado por Djalma Santos e Julinho Botelho; certamente uma fileira menos aclamada pelas bandas do país se comparada à de Ademir da Guia. Mas, aí devemos dar lugar de fala às prateleiras: uma geração peleadora que anda sabendo se libertar do azar como nenhuma na história do clube e que anda escalando cordilheiras e varrendo planícies como poucas.
Pichação no estádio Centenário
Lucas Berti
A noite já era senhora no sábado uruguaio e a terceira taça já tinha cama e roupa limpa em nossa recém-inaugurada sala de troféus. Ainda sem acreditar no deboche dos roteiristas — que no caso palmeirense adoram fazer Davi e Golias pararem a briga para um trago de rum e um jogo de dardo — recebi uma mensagem pelo celular. João, um velho companheiro dos anos de Libertadores e série B (veja aí como a Copa sempre foi um amor, mesmo em anos de sarjeta), escreveu: “hoje a gente finalmente terminou de subir a ladeira do Pacaembu depois de uma paulada. Estamos em casa”. Aproveito a buena onda de ter erguido uma taça no colosso de Montevidéu, então, pra dizer, resignado: quando passar de novo pelo Centenario, já sei por onde entro, onde me sento e pra qual lado do campo devo olhar pra lembrar que o Palmeiras já mora feliz ali também.
Texto do jornalista Lucas Berti.

Fonte: Globo Esporte

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