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terça-feira, 19 de março, 2024
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A surpreendente história do casal preso por traição à pátria nos EUA

Os Toebbes pareciam ter tudo — então por que eles supostamente tentaram vender segredos nucleares? A casa dos Toebbe em Annapolis, no estado americano de Maryland
BBC
Jonathan e Diana Toebbe pareciam ter uma vida comum — bem sucedida profissionalmente, confortável, sem ostentação.
A casa de tijolos vermelhos em uma parte chique de Annapolis — cidade costeira no estado americano de Maryland com igrejas românicas e fachadas de belas artes — comportava a bagunça acolhedora de uma família com dois filhos e dois pitbulls, Sasha e Franklin, cujos nomes estão estampados no capacho de boas-vindas na entrada.
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As ruas do bairro são ladeadas por árvores ciprestes. Há conchas de ostras espalhadas no gramado de um parque próximo, o Quiet Waters. Todos os jardins são cuidadosamente podados, e a grama tem um cheiro doce. A Academia Naval americana fica nas redondezas, assim como um porto de iates.
Ilustração de Toebbe em tribunal federal de West Virginia
Reuters/Via BBC
A paz do lugar foi interrompida no dia 9 de outubro, quando agentes federais invadiram a casa dos Toebbe, de onde seguiram o casal até o condado de Jefferson, em West Virginia — onde Toebbe, de 42 anos, e a mulher, de 45, estavam tentando trair a pátria, de acordo com o governo dos EUA.
O casal de Maryland foi acusado de supostamente tentar vender segredos militares a um governo estrangeiro, crime pelo qual podem pegar prisão perpétua se forem considerados culpados.
Enquanto uma audiência preliminar sobre as acusações contra os Toebbes é aberta em West Virginia nesta quarta-feira, o caso extraordinário de segurança nacional levanta questões sobre as motivações de um casal aparentemente despretensioso que estava supostamente disposto a arriscar tudo acreditando que poderiam se tornar superespiões.
As tentativas de espionagem começaram em abril de 2020 quando, de acordo com o departamento de justiça, Toebbe, um engenheiro nuclear da Marinha americana, entrou em contato com um representante de um governo estrangeiro, enviando a ele um pacote pelo correio com um bilhete dizendo que poderia fornecer informações sobre submarinos nucleares.
Como um especialista com acesso a dados sigilosos que trabalhava no Gabinete do Chefe de Operações Navais, ele afirmou ter acesso a informações sobre sistemas de propulsão nuclear usados ​​em submarinos.
Desenho de Diana Toebbe em seu primeiro dia na corte
Bill Hennessey/Reuters
O governo em questão parece ter relações amistosas ​​com os EUA: representantes do país estrangeiro cooperaram com os investigadores americanos, enquanto preparavam uma armadilha para Toebbe.
Isso parece indicar que o governo estrangeiro era um aliado, como a França, e não a Rússia ou a China. Mas ninguém confirmou qual país estava envolvido.
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O FBI (a polícia federal americana) teve acesso ao pacote alguns meses depois, em dezembro, e enviou seus agentes para se passarem por representantes estrangeiros para contatar Toebbe, dizendo que estavam interessados ​​no que ele poderia oferecer.
Assim começaram os vários meses de desventuras do casal, com Toebbe deixando arquivos confidenciais em cartões de memória SD em locais usados ​​por espiões para entregar materiais de inteligência, conhecidos como dead drops em inglês.
Sua esposa fazia o papel de vigia, de acordo com as acusações do governo.
A tecnologia de propulsão que ele dizia estar tentando vender é um dos segredos militares mais bem guardados e estava no centro de um negócio de alto risco, que os EUA e o Reino Unido haviam fechado recentemente com a Austrália.
De acordo com os investigadores, Toebbe contrabandeou documentos para fora do trabalho aos poucos — algumas páginas de cada vez — para passar pelos pontos de controle.
“Fui extremamente cuidadoso ao reunir os arquivos que possuo, lentamente e naturalmente na rotina do meu trabalho, para que ninguém suspeitasse do meu plano”, ele escreveu ele em um bilhete para seu suposto conspirador.
Suas iniciativas desajeitadas para entregar os dados incluíram esconder um cartão SD em um sanduíche de pasta de amendoim, em um pacote de chiclete e coberto por um band-aid em uma bolsa refrigerada, afirmam documentos judiciais.
Pelo cartão do sanduíche de pasta de amendoim, Toebbe recebeu US$ 20 mil em criptomoedas.
Toebbe ficou nervoso no início, mas acabou parecendo ficar confortável com o “representante estrangeiro” para quem estava vendendo os dados, sem saber que era o FBI.
Ele parece até ter se afeiçoado a ele, escrevendo em uma mensagem: “Um dia, quando for seguro, talvez dois velhos amigos vão ter a chance de se esbarrar em um café, dividir uma garrafa de vinho e rir de histórias sobre suas façanhas compartilhadas.”
No momento em que o casal foi preso, haviam sido coletadas provas substanciais, documentando seus esforços de espionagem.
Vizinhança em choque
Uma semana após a prisão do casal, tudo na casa dos Toebbes estava como eles haviam deixado — o ventilador de teto ainda estava girando no porão, e havia uma meia de tricô por terminar na mesa da sala. Os vizinhos ficaram em choque.
Muitos se perguntavam como um casal que parecia ter tudo a seu favor poderia agora ser acusado de tentar vender segredos militares nacionais para um país estrangeiro.
De acordo com os vizinhos, embora o casal não fosse especialmente sociável, tampouco era reservado.
Toebbe se interessava por armas medievais e era ativo na divisão local de uma organização entusiasta, a Society for Historic Swordsmanship.
Já a mulher tinha doutorado pela Universidade Emory, em Atlanta, e dava aulas em uma escola particular.
Se passar despercebido é uma característica desejável para um espião, ela não se encaixa no perfil — Diana tinha um cabelo roxo brilhante que a tornava facilmente reconhecível, disse um vizinho.
“Ela era para ser uma espiã, e não chamar atenção.”
Dinheiro e motivo
Com todo o seu sucesso pessoal e profissional, por que os Toebbes fariam isso?
É meio que um mistério, disse David Charney, psiquiatra de Alexandria, na Virgínia, que passou décadas estudando casos de espionagem.
Mas, segundo ele, há questões que são comuns em muitos casos semelhantes.
Com frequência, os indivíduos são um conjunto de impulsos conflitantes, disse Charney — que geralmente envolvem querer dinheiro ou talvez sede de vingança. Alguns são movidos pelo desejo de provar que, por mais medíocres que possam parecer, são na verdade indivíduos extraordinários, com um grande segredo.
Agentes que trabalham para os serviços de inteligência e estudam a psicologia da traição criaram um acrônimo para descrever esses motivos, MICE — sigla em inglês para dinheiro, ideologia, compromisso e ego.
Segundo eles, esses são os motivos pelos quais as pessoas cometem traição à pátria.
Os advogados do governo indicaram que Toebbe queria dinheiro. De acordo com uma declaração feita por investigadores federais, ele pediu US$ 100 mil, pagos em criptomoeda, em troca de seus segredos nucleares.
E há indícios de que ele e a esposa podem ter tido problemas financeiros. O juiz Robert Trumble revisou as declarações financeiras do casal e disse que eles poderiam ter um defensor público.
Isso pode significar que eles não eram ricos, uma vez que não podiam pagar pelos próprios advogados, mas também não eram pobres.
Ela agora é representada por dois advogados, Edward MacMahon de Middleburg, na Virginia, e Barry Beck, de Martinsburg. O advogado de Toebbe é Nicholas Compton, um defensor público federal assistente em Martinsburg.
Os advogados não responderam aos pedidos de entrevistas.
Mesmo assim, o dinheiro parece ser apenas parte da história, segundo Charney, dado que, como ele mesmo observou, os Toebbes pareciam estar relativamente bem de vida.
“Você olha para a vida deles, e vê essas fotos de uma casa bacana, e diz: ‘Nossa, não é nada mau.’ Mas não importa o que você pensa. Se eles sentirem que não corresponde às expectativas, isso pode acabar com eles “, explica.
Grandes espiões veteranos também se perguntaram como Toebbe poderia ter pensado que seus estratagemas dariam certo.
As técnicas dele não eram sofisticadas — e evidenciam a questão maior de por que um funcionário de escritório, sem nenhum treinamento em campo, realizaria uma operação tão arriscada.
“Ele é um espião amador”, diz Jack Devine, um ex-agente sênior de operações da CIA, a agência de inteligência americana.
“Ele não tinha nenhum treinamento. Eles assistem a alguns programas de TV e não têm nenhum apreço ao que é necessário.”
“Se você depende de filmes de espionagem para fornecer suas habilidades, é melhor que você seja realmente bom ou sortudo”, acrescenta Devine.
Toebbe, supostamente, não era nem uma coisa, nem outra.
Veja os vídeos mais assistidos do g1

Fonte: G1

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