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quinta-feira, 28 de março, 2024
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Erik ten Hag e o conceito de “criar vários camisas 10” na sensação Ajax

Equipe holandesa mostra movimentação incessante para gerar espaços e está invicta na Liga dos Campeões Qual é o time com o artilheiro, o vice-líder em assistências e o terceiro melhor ataque da atual edição de Liga dos Campeões? Se você chutou os badalados Paris Saint-Germain, Real Madrid ou Barcelona, errou: é o Ajax, que se classificou para o mata-mata com a vitória por 2 a 1, de virada, no Besiktas.
Todo mundo esperava que o Borussia Dortmund fosse o primeiro colocado num grupo em que Sporting e Ajax brigariam pela segunda vaga. Mas os holandeses, que têm os brasileiros David Neres e Antony no elenco, surpreenderam e venceram todas as suas partidas na competição.
Tabela da Liga dos Campeões
Entenda por que o Ajax é o melhor clube formador da Europa
Erik ten Hag, treinador do Ajax desde 2017
Reprodução
O técnico Erik Ten Hag tem um conceito para explicar o futebol sensação que produziu 16 gols, número batido apenas pelo Bayern e Manchester City. É o que ele chama de “criar vários camisas 10 em campo” por meio de movimentações ágeis sem a bola para gerar espaço na defesa do rival. O conceito foi explicado numa entrevista para o canal de YouTube do Ajax.
Chamamos isso de criar vários números 10. Se posicionar entre as linhas. Você vê isso nos movimentos sem a bola. Dusan corre. O resto do time cria espaço para si mesmo com essas corridas sem a bola. Para destruir a defesa do oponente, você precisa de projeções sem a bola. É a chave do sucesso. O adversário reage e isso cria espaço
As corridas sem a bola que Ten Hag menciona nada mais são que movimentos rápidos, que acontecem quando o jogador não tem a bola, no setor da jogada. Por setor da jogada, entenda o lugar em campo onde a bola está. Não importa quem ou qual posição ocupa. O que importa é que quem está perto do companheiro com a bola deve correr para frente, de preferência em diagonal, de um lado ao outro.
Quem corrobora com a ideia é o lateral Noussair Mazraoui. Em entrevista ao Andy in de Auto, ele explica que a movimentação do Ajax não segue posições, mas sim movimentações incessantes.
O segredo da nossa tática é que não temos posição definida. Podemos estar em qualquer lugar. Antony pode jogar como camisa 10, Steven pode ser lateral e eu posso ocupar a posição dele de segundo atacante. Temos que nos movimentar muito para ser difícil de defender.
Veja, no exemplo: o lateral Joël Veltman recebe a bola. Os três que estão mais próximos dele fazem esse movimento de corrida para frente. Quando eles se movimentam, o adversário acaba perdendo o tempo de marcá-los, o que gera espaço e tempo para cada um deles. Por isso Ten Hag faz a correlação com o camisa 10: é a posição em campo de quem toca mais na bola, para, pensa, pausa.
Ao fazer essas corridas, o jogador cria um contexto em que pode exercer esse imaginário do 10, de ter tempo e espaço para pensar.
As corridas sem a bola do Ajax: adversário fica desorganizado
Reprodução
O treinador ainda analisa a movimentação por um outro prisma: o do adversário. Afinal, tudo é ação e reação. Os movimentos ajudam a criar uma condição desfavorável na defesa do PSV:
Joel dá a bola no tempo certo ao Donny, e as corridas sem a bola no centro criam uma situação de três contra dois no centro do campo: Van de Beek, Dolberg e Promes contra Luckassen e Dumfries.
Um ponto importante da analogia com o camisa 10 vem do imaginário. Todo jogador de futebol um dia já sonhou em ser protagonista. E protagonismo significa fazer diferença com a bola, com o passe e o gol. Ten Hag acredita que os movimentos sem a bola – que são repetitivos, chatos até – ajudam o jogador a aumentar as chances desse protagonismo.
Veja como, na sequência do lance, Dolberg – que começa lá atrás – corre sem a bola e cria o espaço para ele apenas fazer o gol. E a defesa do PSV é toda enganada: sai de um contexto de desvantagem numérica para deixar a própria área quase vazia.
Jogada termina com Dolberg livre: o contexto que cria o espaço
Reprodução
O que Ten Hag chama de “criar vários camisas 10” é também um conceito de treino. O jogo de futebol é muito mais aleatório, caótico e decidido nos detalhes. Já o treino…não. O treino é ciência pura. É um ambiente controlado, vigiado e supervisionado, no qual o trabalho do treinador é preponderanete para estimular um time a jogar de determinada forma, um jogador a aprimorar um determinado artifício ou até aprender um novo.
Estímulo. Afinal, o futebol é humano. O treino serve para estimular um grupo a ter comportamentos – a fazer uma coisa de uma determinada forma num ambiente de muita pressão, e agora que a pandemia está acabando, com torcida. Os movimentos sem a bola podem ser estimulados por regras específicas, trabalhos de repetição, correções com vídeos ou no tete-a-tete, no papo mesmo.
Quer um exemplo? O gol de Haller que abriu a virada do Ajax, dois anos depois do exemplo mostrado acima, tem exatamente o mesmo conceito: corridas sem a bola.
Um defensor recebe a bola e Tagliafico, o lateral direito, faz a corrida por dentro, quase que na mesma linha de Haller. Berghuis, o meia, também corre num espaço entre as linhas, e o próprio atacante se movimenta. Todos estão a pelo menos 20 metros da bola – o que torna o passe mais difícil, mas sabem que será o movimento que vai gerar o espaço e o tempo para eles poderem ser 10.
Gol do Ajax nasceu do mesmo conceito implementado no clube há anos
Reprodução
Esse conceito, como todos os conceitos e ideias no mundo (no futebol e na política), tem que ser bem aplicado para dar certo. Não é a ideia, pela ideia, que dita o sucesso. É como ela é colocada em campo. Por isso que é tão importante mencionar o papel do treino aqui: quando um treinador sabe o que faz e como estimula seus jogadores, ele aproxima todos da melhor execução.
Também há o peso do contexto. Contra times que se defendem lá atrás, é preciso de mais do que corridas sem a bola. Pode ser que manter dois pontas ou dois laterais abertos ajude a criar espaço. Ou um nove mais pesadão, banheira, prenda um, dois ou até três zagueiros. O City, que venceu o PSG numa atuação poderosa, mostrou como a amplitude pode ser benéfica, assim como o Barcelona, que construiu diversas chances no Benfica assim.
+ Xavi apresenta seu 3-4-3 e um meio-campo dominante no Barcelona
ten Hag, que foi pedido no Barcelona, especulado no Tottenham e está na mira do Manchester United, mostra que domina treino, conceito e contexto no melhor futebol da Liga dos Campeões até aqui. Futebol digno de vários camisas 10 em campo.
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Fonte: Globo Esporte

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