21.8 C
Campo Grande
sexta-feira, 29 de março, 2024
- Publicidade -

Comitê Nobel repreende premiê etíope, condecorado em 2019 com o prêmio da paz

De pacificador na guerra com a Eritreia a beligerante no conflito na região do Tigray, Abiy Ahmed Ali é alvo de rara pressão pela entidade norueguesa. Abiy Ahmed Ali em foto de 15 de setembro deste ano
Michael Tewelde/AFP
Nobel da Paz em 2019 por seu empenho para encerrar o conflito de 20 anos com a vizinha Eritreia, o premiê da Etiópia, Abiy Ahmed Ali, escolheu o caminho inverso ao de pacificador e conciliador, características que fizeram jus à escolha. No ano seguinte, passou a comandar uma ofensiva militar na região de Tigray, no norte do país, classificada pela ONU como catástrofe humanitária, conjugando milhares de mortos, dois milhões de deslocados, fome e violações de direitos humanos.
O desempenho beligerante do laureado com o prêmio mais prestigiado do mundo lhe rendeu uma rara reprimenda do Comitê Nobel Norueguês, que apelou ao laureado para pôr fim ao bloqueio humanitário e ao derramamento de sangue em Tigray.
“Como primeiro-ministro e vencedor do Nobel da Paz, ele tem uma responsabilidade especial de acabar com o conflito e contribuir para a paz”, afirmou o presidente do comitê, Berit Reiss-Andersen.
A condecoração a Abiy cria sérios embaraços ao Nobel. A entidade sofre pressões para cassá-la, mas a revogação do prêmio a um laureado é descartada por não estar prevista em seu estatuto. Restou ao comitê a repreensão, nas palavras de seu presidente: “A situação humanitária é muito séria. É inaceitável que a ajuda não chegue à região.”
Vítima de ataque em Tigray, na Etiópia, é atendida em Meleke nesta quarta-feira (23)
AP Photo
No discurso de aceitação, proferido há dois anos em Oslo, Abiy atestou a sua experiência como soldado para expressar o horror ao conflito armado. “A guerra é o epítome do inferno. Eu sei, porque estive lá e voltei.”
Pelas mesmas razões, ele é condenado atualmente pelo que acontece no norte do país pela ONU e por boa parte da comunidade internacional. “Em nenhum lugar do mundo estamos testemunhando um inferno como Tigray”, resumiu esta semana o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que foi ministro da Saúde e chanceler da Etiópia, o país mais populoso da África.
Em sua defesa, Abiy Ahmed alega que a ofensiva partiu de ataques da Frente de Libertação Popular Tigray (FLPT) a campos do Exército. Seus detratores dizem, no entanto, que ele se aproveitou do acordo de paz com Isaias Afwerki, ditador da Eritreia, para agir contra um inimigo comum, a FLPT.
Homens que abandonaram região de conflito em Tigray, na Etiópia, se reúnem diante de TV para acompanhar as notícias no campo de refugiados de Umm Rakouba em Qadarif, leste do Sudão
Nariman El-Mofty/AP
A região está sob bloqueio à ajuda humanitária, sob as ordens do premiê, num caso típico de punição coletiva à população, conforme observou o diretor executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth.
A reprovação do Comitê Nobel ao laureado de 2019 é considerada atípica e, portanto, grave, pelo fato de nunca se envolver com a atuação controversa dos que foram condecorados.
O ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger foi agraciado com o Nobel da Paz, em 1973, juntamente com Le Duc Tho, pelo seu papel na obtenção do acordo de cessar-fogo na Guerra do Vietnam. O líder comunista foi o primeiro a recusar o prêmio. Kissinger, por sua vez, se envolveu, no mesmo ano, na articulação do golpe militar do Chile. Em 2009, o presidente Barack Obama recebeu o prêmio logo depois de ter ordenado o envio de mais 30 mil soldados ao Afeganistão.
Nem a Nobel da Paz de 1991, Aung San Suu Kyi, foi alvo de advertência, quando um relatório da ONU condenou o governo, do qual ela fazia parte, os assassinatos em massa de muçulmanos rohingyas por militares em Mianmar. A atuação Suu Kyi contra a paz foi tão questionada quanto a do premiê etíope. Novamente presa e condenada a quatro anos de prisão, no início deste mês, ela recebeu a solidariedade do Comitê Nobel.

Fonte: G1

Comentários do Facebook

Confira também

- Publicidade -

AS MAIS LIDAS

- Publicidade -
- Publicidade -